O custo de não amamentar

Quando penso em amamentação…

o primeiro pensamento que vem à mente é o amor, a experiência inigualável da troca de carinho e de fortalecimento dos laços entre mãe e filho. A sensação daquela cabecinha quentinha apoiada em você já seria prova suficiente de que se trata de algo mágico. Não surpreende, então, que cientistas e psicólogos publiquem pesquisa atrás de pesquisa demonstrando a importância da amamentação para que o bebê obtenha anticorpos e desenvolva sua saúde emocional.

 

Longe de mim propor que esqueçamos disso, mas vamos pensar por um minuto na fria realidade financeira? Infelizmente, não são poucos os que ainda acreditam que amamentar é “coisa de pobre”. A ideia por trás desta visão é de que as mães cujo tempo de trabalho é bem remunerado precisam voltar o mais rápido possível às suas atividades profissionais. Afinal, é caro demais ficarem afastadas por vários meses, ou até mesmo um ano! Isso, é claro, quando não se dependem de uma licença-maternidade de quatro meses!

 

Entendo o raciocínio, mas preciso dizer que discordo da lógica. Em primeiro lugar porque é justamente quem ganha pouco por seu trabalho que tem menos condições de abrir mão de parte ou de toda sua renda por um tempo. Mas, para além dessa consideração, queria dividir com vocês algumas conclusões de estudos sobre os benefícios econômicos da amamentação sobre os quais tomei conhecimento recentemente.  

Um dos mais interessantes é este artigo da Dra Julie Smith, economista e pesquisadora do departamento de Saúde e Medicina da Universidade Nacional da Austrália. Incomodada com o fato de os benefícios da amamentação não se refletirem no cálculo do produto interno bruto (PIB), que mede a riqueza dos países, a Dra Smith elaborou uma proposta sobre como isso poderia ser feito. Para isso, ela adotou o método do sistema de contas nacionais proposto pela ONU. Resultado: a produção atual de leite humano tem um valor anual de US$ 3 bilhões na Austrália. Nos Estados Unidos, o valor potencial chega a US$ 110 bilhões. Infelizmente, cerca de dois terços desse montante são desperdiçados porque a amamentação muitas vezes é interrompida cedo demais, entre outros motivos porque a legislação americana garante apenas 12 semanas de licença-maternidade, e mesmo assim não remunerada.

Outro estudo relevante foi publicado por um grupo de pesquisadores no conceituado jornal de saúde The Lancet. Este aponta que a falta de amamentação é associada a inteligência mais baixa e a perdas econômicas de aproximadamente US$ 302 bilhões de dólares por ano, o que na época em que a pesquisa, publicada em  2016, foi desenvolvida correspondia a quase 0,50% do PIB mundial! Como os autores concluem, parece bastante óbvio que todos os países, independentemente de seu nível atual de renda, teriam muitíssimo a ganhar se adotassem políticas que protegessem e estimulassem a amamentação.

Mas, a esta altura, você provavelmente estará pensando: “O que uma família pode fazer sozinha? Fazer tudo o que estiver a seu alcance para que a mãe amamente nos primeiros meses é essencial. Fora isso, deixar de lado todo e qualquer estigma em relação à amamentação também é um passo fundamental, para cada uma de nós, para nossas crianças e o futuro de nossas sociedades.